Não desprezar ao Profeta
Jose Antonio Pagola
14 Domingo do Tempo ordinário (b) Marcos 6,1-6
O relato não deixa de ser surpreendente. Jesus foi rejeitado justamente em sua própria cidade, entre aqueles que acreditavam conhece-lo melhor do que ninguém. Chega a Nazaret, acompanhado de seus discípulos, e ninguém sai a seu encontro, como acontece às vezes em outros lugares. Também não lhe apresentam os doentes da aldeia para curá-los.
Sua presença só desperta neles espanto. Não sabem quem pôde ensinar-lhe uma mensagem tão cheia de sabedoria. Também não podem se explicar de onde vem a força curadora de suas mãos. A única coisa que sabem é que Jesus é um trabalhador nascido em uma família de sua aldeia. Fora disso, tudo para eles “é escandaloso”.
Jesus sente-se “desprezado”: os seus não o aceitam como o portador da mensagem e da salvação de Deus. Eles se formaram uma idéia de seu vizinho Jesus e resistem a abrir-se ao mistério que se esconde em sua pessoa. Jesus recorda-lhes um ditado que, provavelmente, todos conhecem: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa”.
Ao mesmo tempo, Jesus “admirou-se da incredulidade deles”. É a primeira vez que experimenta uma rejeição coletiva, não dos líderes religiosos, mas de toda a sua cidade. Ele não esperava isto dos seus. Sua incredulidade chega mesmo a bloquear sua capacidade de curar: “não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos”.
Marcos não narra este episódio para satisfazer à curiosidade de seus leitores, mas para advertir às comunidades cristãs que Jesus pode ser rejeitado precisamente por aqueles que acreditam conhecê-lo melhor: aqueles que se fecham em suas idéias preconcebidas sem se abrir nem à novidade de sua mensagem nem ao mistério de sua pessoa.
Como estamos acolhendo a Jesus aqueles que acreditamos ser os “seus”? No meio de um mundo que tem se tornado adulto, nossa fé não é infantil demais e superficial? Não vivemos indiferentes demais à novidade revolucionária de sua mensagem? Não é estranha nossa falta da fé em sua força transformadora? Não corremos o risco de apagar seu Espírito e de desprezar sua profecia?
Esta é a preocupação de Paulo de Tarso: “Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5 19-21). Nós não precisamos algo disto, os cristãos de nossos dias?