É difícil encontrar no mapa da Índia o nome do pequeno povoado de Velankanni, próximo ao golfo de Bengala.
Contudo, trata-se de um lugar famoso em todo o país e considerado meta de peregrinação de católicos, protestantes, hindus, muçulmanos e budistas Velankanni é um pequeno povoado situado numa região que não se orgulha de ter belezas naturais surpreendentes nem um patrimônio artístico ou histórico muito significativo.
De suas brancas praias, pode-se ver o mar salpicado de pequenas embarcações que transportam sal, arroz e outros produtos agrícolas.
Todavia, é exatamente nesse lugarejo desconhecido que se encontra um dos mais importantes santuários do cristianismo indiano: aqui a Virgem apareceu diante dos olhos simples e inocentes de duas crianças, escolhendo-as com destinatárias e, ao mesmo tempo, primeiras anunciadoras de sua mensagem.
Não há documentos escritos que contem em detalhes os dois acontecimentos, provavelmente ocorridos no final de 1500.
Mas a tradição popular e a devoção dos fiéis conservaram sua lembrança, mantendo sempre viva e atual a história dos dois jovens protagonistas de um encontro tão privilegiado.
O primeiro é um pastorinho hindu: num dia como tantos outros, ele caminha sob o sol escaldante para levar ao patrão um recipiente cheio de leite.
Está cansado, não agüenta mais e pára para repousar um pouco à sombra de uma árvore, mas acaba dormindo.
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É acordado por uma luz intensa e pela voz de uma bela senhora que lhe pede um pouco de leite para seu filho.
O pastor tem medo de irritar seu patrão, mas não pode recusar um pedido tão doce e dá metade do leite que levava.
Chegando a casa, já estava pronto para receber o merecido castigo, quando, diante dele e de seu patrão, um fato estranho acontece: o leite começa a aumentar no recipiente até transbordar e escorrer pelo chão.
O segundo protagonista é um jovem paralítico que, sentado debaixo de uma grande árvore, ganhava a vida vendendo buttermilk, uma bebida indiana a base de iogurte.
A ele também a bela senhora pede algo para matar a sede de seu filho.
Dessa vez, porém, vai fazendo logo um outro pedido ao rapaz: que ele vá à vizinhança para anunciar seu desejo de que uma capela lhe seja construída naquele lugar.
O rapaz olha com tristeza para suas pernas inválidas e pergunta-se como poderá contentar a doce senhora? Mas, de repente, sente uma nova força dentro de si e consegue ficar de pé, correndo imediatamente para dar a notícia na cidade.
A pequena capela é construída e a notícia do milagre corre como um relâmpago e milhares de pessoas começam a procurar Velankanni para invocar Nossa Senhora como Mãe da Saúde.
E as graças obtidas são inúmeras, as preces ouvidas incontáveis.
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A capela torna-se uma igrejinha que, logo, mostra-se também insuficiente para receber as multidões de peregrinos.
Assim, no decorrer dos anos, ela foi ampliada e reconstruída até chegar à atual estrutura, com a planta em forma de cruz e a cúpula em correspondência com o altar de Nossa Senhora.
Em 1962, João XXIII eleva o Santuário de Nossa Senhora da Saúde de Velankanni a Basílica Menor, agregada à Basílica de Santa Maria Maior em Roma, dando-lhe assim a aprovação oficial da Igreja.
O Santuário de Velankanni é hoje um verdadeiro farol de fé e de testemunho que irradia e difunde sua luz em toda a Índia, chamando não só os fiéis cristãos, mas também de outras religiões.
Talvez seja esse o maior milagre da Virgem de Velankanni: reunir na oração, num único templo, cristãos, muçulmanos e hindus.
Todos são peregrinos.
Talvez as motivações sejam diferentes, mas a devoção e a confiança são iguais.
Na verdade, não existe, no mundo, outro povo como o indiano, no que se refere às peregrinações: trata-se de um fenômeno religioso particular, que se manifesta num movimento ininterrupto de massas de devotos e peregrinos, por ocasião das grandes festas.
Se, para os católicos, a veneração a Maria, mãe de toda a humanidade e mediadora de nossas orações, é bem conhecida, é bom saber que os muçulmanos lhe dedicam um respeito especial, por ser ela a mãe de Jesus e exemplo de pureza e de virtude, e para o hindus, entre todas suas divindades, a Senhora de Velankanni é propiciadora generosa de graças.
Num país de tantas crenças, a presença de Maria é sinal de viva união e fraternidade.
A devoção a são Lourenço Outro lugar de culto católico, mas de peregrinação também de hindus e muçulmanos é o santuário de são Lourenço, na diocese de Mangalore, no sul da Índia.
Há muitas versões para explicar a origem do santuário e seu centenário caráter inter-religioso.
Provavelmente, a igreja existe desde 1810, mas a tradição conta que sua fundação aconteceu 200 anos antes, por cristãos que queriam escapar da tirania do sultão muçulmano Tippu.
Este desconfiava que os cristãos estavam do lado dos ingleses, que eram seus inimigos.
Por isso, ele os deportou para Mysore, sua capital, onde muitos morreram de fome ou torturados.
Quando o sultão morreu, alguns cristãos voltaram para Mangalore, levando apenas a estátua de são Lourenço, seu protetor nos infortúnios.
Abatidos e cansados, eles pararam à beira de um riacho para retomar forças, depositando a estátua de madeira num canto.
Na hora de ir embora, não conseguiram tirá-la do lugar e, até hoje, as pessoas acreditam que é nesse local que construíram o santuário.
A peregrinação reúne católicos, hindus e muçulmanos, que participam inclusive da comissão de festas da paróquia.
Uma crença popular, difundida entre as três religiões, diz que usar, amarrado no pulso, um fio bento nesse santuário garante a proteção de são Lourenço, que também é invocado por casais que desejam ter filhos.
Églises d’Asie A oferta dos cabelos Na religiosidade indiana, é costume oferecer dons à divindade em troca de favores recebidos.
Em Velankanni, os peregrinos, confiantes de que suas orações serão ouvidas, levam ao altar de Nossa Senhora ofertas preciosas, segundo suas posses: objetos sacros, dinheiro e até produtos de seu trabalho.
A respeito disso, há uma tradição curiosa: o corte dos cabelos.
Muitos fiéis fazem a promessa de não cortar mais os cabelos até que recebam a graça pedida.
Quando a recebem, porém, raspam a cabeça em público, nos arredores do santuário.
Por causa disso, foi preciso criar espaços especiais para esses fins.
A cerimônia continua, na igreja, com a oferta dos cabelos à Mãe de Jesus.
Tudo isso tem um valor muito significativo para os indianos, sobretudo para as mulheres que têm um cuidado todo especial com seus cabelos: a decisão de cortar os cabelos representa, portanto, um sacrifício e um gesto de amor à Virgem.