Nosso livro: Dom Helder – sonhos e utopias
Padre Geovane Saraiva*
“Quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade”; “Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante… Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do mundo (…)”.
“Eu sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina daqui a mil anos. Pois, ele lançou sementes destinadas a produzir uma messe abundante nesta nova época do cristianismo que esta começando agora. As suas sucessivas conversões sinalizam de certa maneira a futura trajetória da Igreja nesta nova época da história da humanidade” (Teólogo José Comblin).
E é por isso mesmo que não nos cansamos de dizer que a vida do Dom Helder é como uma mina de ouro que precisa ser sempre e cada vez mais explorada, com um dom maravilhoso de Deus. Vida de uma beleza, que podemos dizer, diferenciada, nos seus gestos raríssimos em favor da vida dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”.
Ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife, em abril de 1964, afirmou: “Ninguém se escandalize quando me vir ao lado de criaturas humanas tidas como indignas e pecadoras (…). Disse também, com ternura e paixão: “Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar no coração do bispo”.
Dom Helder, pastor da paz e da ternura, sentia-se honrado quando seus inimigos o acusavam de utópico e sonhador, porque se aproximava do “cavaleiro andante”. Dom Helder dizia-lhes: “Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota depreciativa” e acrescentava: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”.
Guardemos no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança, deixada por Dom Helder Câmara, o artesão da paz e cidadão do mundo, o bispo brasileiro mais influente no Concílio Vaticano II, ao abrir o caminho para a renovação, na sua mais profunda e autêntica coerência em favor dos empobrecidos: “Se não engano, nós, os homens da Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da sociedade”.
Falou também com extraordinária paixão que falou que Deus é amor, em tom daquilo que lhe era muito peculiar, a poesia: “Fomos nós, as tuas criaturas que inventamos teu nome!? O nome não é, não deve ser um rótulo colado sobre as pessoas e sobre as coisas… O nome vem de dentro das coisas e pessoas, e não deve ser falso… Tem que exprimir o mais íntimo do íntimo, a própria razão de ser e existir da coisa ou da pessoa nomeada… Teu nome é e só podia ser amor”.
*Pe. Geovane Saraiva, sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
Pároco de Santo Afonso