O gesto supremo
Domingo de Ramos – Marcos 14.1-15.47
Jose Antonio PAGOLA
Jesus contava com a possibilidade de um final violento. Não era ingênuo.
Sabia ao que estava exposto se continuasse insistindo no projeto do Reino de Deus. Não era possível procurar com tanto radicalismo uma vida digna para “os pobres” e os “pecadores”, sem causar a reação daqueles que não se interessavam por mudança nenhuma.
Certamente, Jesus não é suicida. Não procura a crucificação. Nunca quis o sofrimento nem para os outros nem para ele próprio. Toda sua vida foi dedicada ao combate contra ele lá onde o encontrava: na doença, nas injustiças, no pecado, na desesperança. Por essa razão, ele não está correndo agora atrás da morte, mas também não foge dela.
Continuará acolhendo aos pecadores e excluídos embora sua forma de agir cause irritação no Templo. Se no final eles o condenam, Jesus morrerá também como um delinqüente e excluído, mas sua morte será a confirmação do que foi sua vida inteira: confiança total em Deus que não exclui ninguém de seu perdão.
Continuará anunciando o amor de Deus aos últimos, se identificando com os mais pobres e desprezados do império, não importa o quanto ele incomodar nos ambientes próximos ao governador romano. Se um dia o executarem no suplicio da Cruz (reservado para os escravos) ele irá morrer também como escravo desprezível, mas sua morte será o selo eterno de sua fidelidade a Deus defensor das vítimas.
Cheio do amor de Deus, continuará oferecendo “salvação” àqueles que sofrem o mal e a doença: “acolherá” os excluídos pela sociedade e religião; oferecerá o “perdão” gratuito de Deus aos pecadores e às pessoas perdidas, incapazes de retornar à sua amizade. Esta atitude de salvação, que inspira sua vida toda, será também a inspiração de sua morte.
Por isso, os cristãos somos tão atraídos pela cruz. Beijamos o rosto do Crucificado, levantamos os olhos para ele, escutamos suas últimas palavras… porque, em sua crucificação, vemos o último serviço de Jesus ao projeto do Pai, e o gesto supremo de Deus que entrega seu Filho por amor à humanidade inteira.
Não é digno a Semana Santa virar folclore ou apelo turístico. Para os seguidores de Jesus a comemoração da paixão e morte do Senhor é agradecimento emocionado, adoração gozosa ao “incrível” amor de Deus e chamada a viver como Jesus, nos solidarizando com os crucificados.