O Peregrino da Paz
Prof. José Cajuaz Filho
Fortaleza foi seu berço e o mundo seu campo apostólico. Franzino, mas de uma força e coragem inabaláveis.
Humilde a ponto de jamais pensar que, um dia reconheceriam seu grau de santidade e solicitariam à Congregação para a Causa dos Santos sua beatificação.
Este é o perfil de Hélder Pessoa Câmara, conhecido simplesmente como Dom Hélder Câmara.
Veio ao mundo em Fortaleza em 1909. Família humilde, viveu, na própria pele, as adversidades da vida.
Desde a infância, mostrou-se inclinado ao sacerdócio e demonstrava especial atenção nas missas celebradas em sua comunidade e já queria ser padre.
Em 1917, ouviu de seu pai estas sábias palavras como que inspiradas pelo Espírito Santo e que devem servir de bússola para aqueles que dedicam sua vida ao ministério sacerdotal: MEU FILHO, VOCÊ SABE O QUE É SER PADRE? PADRE E EGOÍSMO NÃO PODEM ANDAR JUNTOS.
Isto orientou Dom Hélder a vida inteira. Despojou-se de tudo em favor dos outros sobretudo dos mais necessitados.
Ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza onde fez todos seus estudos; propedêutico, filosófico e teológico. Ordena-se, com autorização da Santa Sé, aos vinte e dois anos, pois naquela época, a idade mínima para o sacerdócio era vinte e quatro anos.
Começa, então, a vivência daquela advertência de seu pai: Padre e egoísmo não andam juntos.
No campo religioso, eram as pregações e sua vida que mostravam aos homens o amor e a bondade de Deus.
No social, tinha uma obsessão: a miséria tinha que ser extirpada da sociedade. Ele dizia: Temos que entrar no terceiro milênio sentados à mesa, comendo, saudáveis, fraternos, abrigados do frio, da chuva e do vento. Era o advento da Idade de Ouro da Mitologia Grega. Não haveria fome, guerra e desabrigo e a saúde chegava para todos. Utopia? Não. Sua vida foi a perseguição contínua desse desiderato.
O campo político estava presente em sua vida, não como candidato a qualquer cargo eletivo, mas como orientador daqueles que exerciam as funções políticas. Sua coragem na defesa dos direitos humanos não tinha limites. Ela o transformou em símbolo da resistência à ditadura militar, época em que sofreu duras perseguições.
Tachado demagogo e comunista, Dom Hélder torna-se “persona non grata” ao regime militar.
Proibido de falar no Brasil, passa a voar mais alto e sai, como o apóstolo Paulo, a pregar seu ideal, oportuna e inoportunamente, no Exterior. Suas ações eram mal interpretadas. Certa vez ele disse: Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista.
Outro aspecto da vida de Dom Hélder é sua luta desenvolvida em prol da paz. Ele encarnou a mensagem da Igreja de que a paz é fruto da justiça. Então numa sociedade em que não há uma distribuição justa de renda não pode haver paz. Por essa visão de sociedade pacífica e pelo trabalho pela diminuição das desigualdades sociais, Dom Hélder foi candidato ao Prêmio Nobel da Paz, castrado pelo regime militar vigente no Brasil. Mesmo assim, por suas andanças pregando a paz entre os povos, hoje ele é conhecido como o Peregrino da Paz.
No ano de 2009 a Igreja do Brasil comemora o centenário de nascimento deste seu filho ilustre. Que esta comemoração desperte em cada um de nós o desejo de viver em toda sua plenitude a mensagem do Evangelho como fez Dom Hélder, o Peregrino da Paz.