O Reino de Deus é Dom!
Dom Sérgio da Rocha*
O Evangelho segundo Marcos nos apresenta duas parábolas do Reino. Jesus compara o Reino de Deus à semente que “vai germinando e crescendo” até produzir frutos, sem que o semeador saiba como isso acontece (Mc 4,27). Deste modo, ele destaca a força e o dinamismo da própria semente e, portanto, do Reino, como dom de Deus. Por isso, ao rezar o “Pai Nosso”, nós sempre pedimos “venha a nós o vosso Reino”! Num mundo marcado pela lógica do produzir e adquirir, é preciso resgatar a lógica do dom e fazer a experiência da graça, para compreender e acolher o Reino. Em seguida, Jesus compara o Reino de Deus ao “grão de mostarda”, planta que não se confunde com a verdura que conhecemos.
A sua semente era considerada pelo povo a menor de todas, mas que depois se tornava uma das maiores árvores daquela região. O acento sobre a pequenez da semente contrasta com as ideias de grandeza e glória terrenas atribuídas por muitos ao Reino de Deus, naquele tempo e ainda hoje. Na atual cultura, em que se valoriza o que é grandioso e espetacular, é preciso redescobrir o amor de Deus manifestado na simplicidade da vida cotidiana. Ao contrário, deixamos de discernir e acolher os sinais do Reino presente entre nós. Apenas os “pequeninos” foram capazes de compreender e aceitar a boa nova do Reino, e não os que se achavam sábios e poderosos (Lc 10,21). Além disso, a referência aos grandes ramos estendidos, capazes de abrigar os pássaros do céu, nos faz pensar na universalidade do Reino, aberto a todos e não restrito a alguns. Portanto, ninguém pode pretender entrar sozinho no Reino ou querer estar acima dos demais.
O texto da 2ª Carta aos Coríntios, hoje proclamado, nos recorda que “somos peregrinos” (2Cor 5,6), que caminham na fé, rumo à morada eterna, junto do Senhor. Ao mesmo tempo, nos motiva a viver com responsabilidade a nossa vida neste mundo, pois deveremos prestar contas a Deus da nossa peregrinação.
Nos dias 17 a 24 de junho, realiza-se a Semana do Migrante, em nível nacional, neste ano, com o tema “Migração e Saúde” e o lema “Conquistar direitos é defender a vida”, em sintonia com a Campanha da Fraternidade. Brasília foi edificada por migrantes procedentes de todas as partes do Brasil, que continuam a formar a maior parte de sua população. Somos convidados a rezar e a refletir sobre a realidade dos migrantes, bem como, a desenvolver ações pessoais e comunitárias que lhes manifestem a acolhida fraterna, a solidariedade e o respeito, da comunidade cristã e de cada um. O Pai ama a todos como seus filhos e nos quer amando a todos como verdadeiros irmãos. O dom do Reino de Deus é oferecido a todos!
*Arcebispo Metropolitano de Brasília