Padre Ezequiel Ramin: paixão pela missão
Quem foi Padre Ezequiel?
Um servo de Deus, missionário, consagrado sacerdote, pertencente à Congregação dos Missionários Combonianos. Nascido em Pádua, Itália, aos 09 de fevereiro de 1953, em uma família simples e religiosa, e ordenado sacerdote em 29 de setembro de 1980. Em 01 de setembro de 1983, foi destinado a terras brasileiras, para morar em Cacoal, Rondônia, Diocese de Ji-Paraná.
Como diz o canto: “muito tempo não dura a verdade, nessas margens estreitas demais…” (Ir Cecília), e semelhante ao que aconteceu com o próprio Jesus, assim também aconteceu com o Padre Ezequiel. Em tão pouco tempo de missão, sua presença incomodou tanto, a ponto de os ricos tramarem sua morte. E aos 24 de julho de 1985, quando em missão de paz em favor dos indígenas e posseiros, seu caminho foi interrompido pela maldade dos donos do poder. O Padre Ezequiel fez sua entrega plena ao Pai, juntando-se à multidão dos que alvejaram suas vestes com o sangue do Cordeiro (Ap 7, 14).
Por quais motivos mataram o Padre Ezequiel?
Certamente pelos mesmos motivos que mataram o Filho de Deus e, bem como, daí para cá, tantos homens e mulheres que vêm sendo tombados desde a origem da Igreja. O motivo é sempre o anúncio do Reino que consiste na justiça e no bem comum. Podemos afirmar que nossa Igreja nasceu com a perseguição, e por muito tempo foi fecundada com o sangue do martírio. Pois só é possível saber qual a verdadeira Igreja e se somos verdadeiramente Igreja, quando somos perseguidos e mortos pelo Evangelho e pela defesa dos pobres.
E, neste dia 24 de julho, a Diocese de Ji-Paraná, em Rondônia, por meio do Projeto Pe Ezequiel, das lideranças, pastorais e movimentos de luta pela justiça, faz memória a este grande missionário, nosso primeiro mártir. E como bem falou João Paulo II: “Ele é testemunha da caridade”. Pois não há caridade maior do que dar a vida pelos irmãos (Jo 15, 13).
A causa que levou o Padre Ezequiel à morte e os que a tramaram continuam bem presentes em nosso meio, disfarçados de muitas maneiras. Continuam mandando e desmandando bem à vontade, porque os que deveriam incomodar simplesmente, com o silêncio, estão consentindo a situação. Não nos assustemos se algum dia as pedras começarem a gritar, pois elas são menos tolerantes com o poder do mal e farão de tudo para quebrar o silêncio do medo que nos domina.
A essência do cristianismo é provada em realidades como a nossa. Porque jamais irão perseguir a igreja que se fecha em sacristias, sem levar em conta o martírio do povo e da Criação-Natureza. Mas com certeza, vão nos atacar e nos matar quando definirmos que estamos do lado do verdadeiro Evangelho de Jesus de Nazaré, cobrando a efetivação da Reforma Agrária e o respeito às áreas indígenas, exigindo atenção do Estado para com a agricultura familiar e sustentável e a valorização da educação rural. Quando tivermos coragem de dizer NÃO ao agronegócio, ao avanço do latifúndio, às construções de barragens para fins de interesses particulares de grupos fechados, que vêm causando a expulsão e a migração forçada de muitas famílias. Quando formos capazes de abrir a boca e denunciarmos os que sustentam a prostituição infantil e a proliferação das drogas que matam nossa infância e juventude todos os dias.
Hoje, 23 anos depois, nossa realidade ainda é cercada de “catuvas, trincheiras e barricadas” que ameaçam calar a voz da verdade. E por incrível que pareça estão conseguindo. É por isso que a Igreja não deve esquecer seus mártires, pois o “esquecimento” pode ser traduzido com o consentimento com o pecado e a fuga do compromisso. E um povo que não faz memória do seu passado é um povo sem história e fácil de ser manipulado.
O Padre Ezequiel deixou muitos escritos relatando a amigos os desafios encontrados na missão. Entre tantos, um deles nos chama muito à atenção, diz o seguinte:
“Esta noite, diante de sua vida, este missionário chorou. Contudo, continuo o mesmo com este povo (…) Estou caminhando com a fé que, como o inverno, cria a primavera. Em minha volta as pessoas morrem – a malária cresceu assustadoramente – os latifundiários aumentam, os pobres são humilhados, os policiais matam lavradores, as reservas indígenas são invadidas. (…) Com dificuldade os meus olhos conseguem ler a história de Deus por aqui”
Pe. Ezequiel Ramin
Padre Ezequiel, você deu exemplo de verdadeiro pastor, colocou sua vida como garantia em favor dos menos favorecidos. A terra de dois continentes alimentou-se do seu SER. O Brasil recebeu todo o seu sangue, e a Itália, o seu berço original, e familiares receberam seu corpo. Por isso, você é nosso também e cada dia mais, você está vivo na luta de mulheres e homens que se doam e tentam manter erguida a mesma bandeira que você segurou até aquele dia 24 de julho de 1985. Ao ler seus escritos percebe-se a dimensão de sua paixão pelo Evangelho e pela justiça. Portanto, o seu sonho mantém vivo em muitos Projetos, CEBs e Pastorais.
Fonte: CEBs Acontecendo, 25 de julho de 2008 – n.º 35– Ano I