Padre Jaime C. Patias se despede da redação

Jaime C. Patias

Caros leitores e colaboradores da revista Missões, a missão no plural.
Hoje, dia 8 de agosto, deixo a direção da revista e do site Missões para assumir novos trabalhos nas Pontifícias Obras Missionárias – POM, em Brasília, DF, onde passo a residir.
Aproveito para apresentar o novo diretor, a quem agradeço pela disponibilidade e desejo um ótimo trabalho. Trata-se do padre Joaquim Gonçalves, missionário português da Consolata, com muitos anos de Missão em diversas atividades no Brasil e em Portugal.
Termino mais um ciclo na minha vida consagrada à Missão. Foram dez anos de muito aprendizado e muitas oportunidades. Por tudo, Deus seja louvado.
Agradeço aos leitores e internautas pela grata companhia e interação. A minha gratidão especial aos membros da Equipe de Redação, funcionários e aos colaboradores, pela dedicação e profissionalismo. Sou grato ao Instituto Missões Consolata, minha família, pela confiança.
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção das sementes” (Henfil).
Ante os novos desafios, peço ao Senhor da Vida a capacidade de continuar a ser um semeador que ame o chão da Missão, a Semente sagrada e o dia de amanhã!
Semeador que continue caminhando na esperança!
Semeador que espalhe a Boa Semente!
Semeador que trabalhe, que confie e que, sobretudo, nunca deixe de semear!
Comunicação e Missão têm tudo a ver.
O meu abraço com carinho, e mais uma reflexão para alimentar a alma.
Pe. Jaime C. Patias, imc.
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A vocação da Igreja
A missão fundamental do discípulo missionário de Jesus Cristo.
A origem da missão se encontra em Deus, que confia seu Plano de Salvação Universal a Jesus, no Espírito Santo. É Deus próprio que decide sair de si mesmo e vir ao nosso encontro com seu amor sem limites. Portanto, ao falarmos de missão, não falamos de uma atividade, mas da essência divina de Deus que não se contém, mas transborda, se comunica com a humanidade. A revelação de Deus amor se dá em Jesus Cristo. Ele escolhe e chama discípulos para estar com Ele, formar comunidade na unidade com o Pai e o Espírito e viver a missão de Deus até os confins da terra. Todos os que seguem Jesus, pelo batismo, em qualquer estado de vida, laical, consagrada ou ordenada, recebem do Mestre a ordem de continuar a mesma missão como Igreja. Dessa forma, não é a Igreja que tem a missão, mas a missão que tem a Igreja e a envia. Não é o missionário que leva o Evangelho, mas é o Evangelho que leva o missionário até os confins do mundo para fazer discípulos (Mt 28, 19).
A missão não é algo secundário na vida do discípulo de Jesus, seja ele ordenado como padre ou diácono, religioso ou leigo, mas é essencial, ou seja, sem ela, não há razão de existir. Que dizer, então, de um padre, diácono, religioso ou religiosa, seminarista ou aspirante que não quer ouvir falar da missão? A Igreja existe de verdade quando assume a missão, vocação que se realiza mais no âmbito do “ser” do que do “fazer”. A missão aos povos sempre foi, e sempre será a grande vocação da Igreja. Não é exagero afirmar que, se a Igreja não for missionária por natureza, por essência, (AG 2) ela simplesmente não existe como tal ou então não é a Igreja de Jesus Cristo.
Missão Ad Gentes
Alimentar-se da Palavra e do “Pão da Vida”, que é Jesus, sem se comprometer com a Missão, provoca um vazio na vida do cristão. Pensa-se muito na pastoral de manutenção, na administração do culto e dos sacramentos. Mesmo que tenham o direito de serem assistidos, essa ação evangelizadora não atinge mais de 3% dos 30% que são cristãos, isso num universo de sete bilhões de seres humanos. Seria preciso pensar em ministérios capazes de chegar aos 27% dos batizados que não participam ativamente da Igreja e precisam de uma “nova evangelização ou “re-evangelização”. Contudo, acima dessa justa preocupação está o primeiro anúncio entendido como missão Ad Gentes, para 70% da população mundial e que constitui a principal missão da Igreja. Muito além do que amar a Deus no culto do templo, somos desafiados a sair da sacristia e do presbitério para amar a Deus no próximo com uma espiritualidade que abranja todas as expressões da vida humana. Vida plena é doação e partilha, isso é missão, então a nossa vida é missão, eis a vocação.
Mais do que especialistas do culto, precisamos de discípulos missionários plenamente identificados com a Pessoa e a Missão de Jesus. Generosos e desprendidos para colocarem-se a caminho, movidos por uma mística de itinerantes que não os deixa fixarem-se em lugares e estruturas que já não favorecem a transmissão da fé. Pessoas de fé que vivem uma espiritualidade missionária profética, porque se identificam com a profecia de Jesus; apostólica porque alicerçada na experiência e tradição dos apóstolos e das primeiras comunidades; evangélica porque tem o Evangelho de Jesus como ponto central que ilumina e torna autêntica a Missão; e universal porque em plena unidade com Deus, que ama sem fronteiras, está preocupada com toda a humanidade.
Sonho com uma Igreja que viva e anuncie a mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus. Uma Igreja animada pelo Espírito de Jesus, itinerante, encarnada e missionária. Uma Igreja sólida e organizada, mas em movimento, contagiada pela força do Espírito, dinâmica e aberta aos anseios do mundo. Uma Igreja comunidade de comunidades, voltada preferencialmente para os excluídos com características de família (hospitaleira), samaritana (servidora), celebrativa (na ação litúrgica da fé), profética (transformadora) e missionária (aberta ao mundo). Uma Igreja que viva a sua verdadeira vocação como sacramento (sinal) visível da presença do amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus Cristo, pela humanidade inteira.
* Jaime Carlos Patias, imc, é assessor de Comunicação das POM e Secretário Nacional da União Missionária. Publicado na revista Missões, N.06 – jul/ago de 2012.
Fonte: Revista Missões