Pastoral Cibernética

Dom Orani João Tempesta

Enquanto em nosso país discute-se se todos têm o direito humano à utilização por todos dos meios de comunicação e à liberdade de informação devido a algumas tentativas de exclusão, imposições e censuras – e temos exemplos próximos de nós dessa nova maneira de conceber a democracia –, a Igreja prepara-se para celebrar mais um Dia Mundial das Comunicações. Este foi o único “dia” criado pelo documento do Concílio, que foi um dos dois primeiros a serem aprovados – o da Comunicação!

Neste Ano Sacerdotal, o Santo Padre dirige-se diretamente aos sacerdotes, mas a mensagem é válida para toda a Igreja, principalmente neste tempo de tanta comunicação.

A mensagem do Papa Bento XVI para o 44° Dia Mundial das Comunicações, a ser celebrado no domingo, dia 16 de maio, que no Brasil coincide com o Dia da Ascensão do Senhor, trata da evangelização no mundo digital. O tema para este ano, no contexto do Ano Sacerdotal, figura assim: “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra”. Esta mensagem mostra intensamente a solicitude papal de pastor empenhado em prol da difusão da mensagem do Evangelho. O apelo que faz aos sacerdotes de toda a Igreja revela como o seu coração arde de amor pela causa da difusão da Boa-Nova de Jesus Cristo. Ele tem profunda consciência de que o encontro do homem de hoje com Jesus é, como sempre foi, um evento de primeira importância. Por isso, não mede esforços para promover, como pastor universal da Igreja, a amizade verdadeira com Cristo, amizade decisiva, capaz de imprimir à vida uma nova direção e um colorido novo. O ardor do coração missionário do Papa quer atingir os corações dos sacerdotes e dos fiéis de toda a Igreja. O Evangelho deve ser comunicado! A Palavra deve ser anunciada! Os sacramentos da salvação devem ser administrados! O serviço da caridade jamais pode cessar! Na verdade, a Igreja existe para Deus e para abrir aos homens acesso a Deus, promovendo a fraternidade entre os membros da família humana, que deve tornar-se, cada vez mais, família de Deus. Assim, a comunicação não pode faltar!

Bento XVI pede aos sacerdotes que lancem mão dos meios modernos de comunicação, principalmente daqueles que nos últimos anos conheceram uma larga difusão, como a internet, a fim de que a mensagem de Jesus Cristo possa difundir-se de modo eficaz no mundo contemporâneo. Os homens, que cada vez mais se valem dos novos meios de comunicação, devem ouvir, através deles, também o anúncio de Deus e do seu Filho amado, nosso Redentor. Disse o Papa com muito acerto e com a visão de um pastor que quer sempre acompanhar de perto as ovelhas que Cristo lhe confiou: “Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que ‘Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros’”. E lança a pergunta, que é um desafio para os sacerdotes: “Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequada mente o futuro?”

Muitas vezes a difusão de mentiras e calúnias são tão difundidas que parecem tornar-se verdadeiras, e nós não estamos presentes no meio digital para dar a alternativa da verdade, restaurando-a ou anunciando-a. O grande segredo de toda comunicação católica é a pessoa que está por trás do teclado, da câmera, do microfone, da direção – se tiver princípios cristãos todo o trabalho será de utilidade para a vida humana com dignidade.

A Igreja, com seus sacerdotes, deve levar a sério as palavras do Santo Padre. O êxito de sua missão evangelizadora depende, em parte, de seu empenho efetivo no campo dos modernos meios de comunicação, este vasto horizonte missionário que nos foi aberto. É certo, porém, e os sacerdotes estão conscientes disto, que o anúncio através dos novos media não substitui, de maneira alguma, o contato pessoal e a vida comunitária do Povo de Deus. Aliás, todo anúncio da fé deve reforçar concretamente os laços que nos unem a Cristo e entre nós, tornando autêntica a nossa vida comunitária, e benfazeja a nossa presença amiga entre os irmãos. Os sacramentos da nossa fé, que significam e comunicam eficazmente a graça da Redenção, só podem acontecer no âmbito bem concreto da vida comunitária da Igreja. E o serviço da caridade, do qual a Igreja jamais descuida, não pode renunciar ao contato vivo com o irmão. Desse modo, o empenho do sacerdote no anúncio do Evangelho através dos novos recursos e meios de comunicação que o mundo atual nos disponibiliza deve contribuir para promover e reforçar os laços da união dos homens com Deus e da unidade dos homens entre si.

No texto da mensagem, o Santo Padre fala da “diaconia da cultura” que a Igreja é chamada a exercer. Com efeito, a cultura é o espaço onde o homem acontece. O homem gera a cultura, mas também é gerado por ela. A cultura, assim, pode ajudar o homem a desenvolver suas ricas potencialidades, mas também pode impor-lhe graves limitações. Prestar um serviço à cultura, no sentido de torná-la mais humanizada e humanizante, é dever de todos nós. E a Igreja sabe que o autêntico humanismo não coloca Deus entre parênteses. Sem Deus nenhum humanismo é verdadeiramente tal. A cultura precisa de Deus, porque o homem tem sede de Deus. Como ser naturalmente religioso, o homem só encontra o sentido último de sua existência tendo como referência fundamental o relacionamento com Deus. Santo Agostinho, grande conhecedor da condição humana, o exprimiu através de palavras que se tornaram célebres: “Fizestes-nos, Senhor, para vós, e nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em vós” (Confissões I, 1).

Assim, presta-se grandíssimo serviço à cultura quando a Igreja anuncia a Palavra de Deus, do Deus cheio de poder e de bondade que se manifestou em Jesus Cristo. Os sacerdotes, valendo-se da nova “ágora” dos tempos atuais, os novos media, contribuirão de modo decisivo para o incremento da cultura e o engrandecimento do homem de hoje. Até mesmo aqueles para os quais o Deus que nos fala em Jesus é ainda um desconhecido poderão ser atingidos, conforme as palavras do Papa: “Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o ‘pátio dos gentios’ – do Templo de Jerusalém também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?” Os novos meios de comunicação constituem, na verdade, como bem disse Bento XVI, um “continente digital”, um amplo continente que está a reclamar a presença do anúncio salvífico. Avancemos para as águas mais profundas!

Um Comentário

  1. alexandre nunes
    maio 09, 2010 @ 12:55:58

    Hoje, a Igreja leva uma verdadeira “surra” dos meios de comunicação, sejam os tradicionais: impresso, tv e rádio, sejam as novas mídias cibernéticas. Já é mais do que a hora da Igreja lançar mão das mesmas tecnologias para mostrar também o que faz de bom. Nossos irmãos evangélicos sabem, e muito bem, fazer uso da mídia (sem discutir a forma) para mostrar seus feitos e super valorizá-los. Estamos perdendo espaço em um mundo cada vez ‘menor’. Para avançar em águas mais profundas necessitamos nos capacitar, modernizar. Vivemos em um mundo em que como dizia Chacrinha: ” quem não se comunica se estrumbica”.