Permanece firme naquilo que aprendeste
Dom Odilo Scherer
Na semana passada, dia 8 de junho, lemos na Liturgia um trecho da segunda Carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 3,10-17). O Apóstolo dá a entender que sua missão está chegando ao fim e orienta seu jovem colaborador, colocado como “epíscopo” à frente de comunidades cristãs, sobre como ser um bom pastor e continuador de sua própria ação apostólica.
Paulo fala das perseguições e de tudo o que sofreu por Cristo e pelo Evangelho; considera isso inevitável para quem quer “levar vida fervorosa em Cristo” (v. 12). E estimula o jovem Timóteo à firmeza na fé e à perseverança: “permanece firme naquilo que aprendeste…” A preocupação com a constância e a perseverança na fé reaparece logo adiante, quando Paulo previne quanto ao tempo, em que muitos já não suportarão a sã doutrina, mas, levados pelos seus gostos, vão atrás de uma série de mestres e pregadores, deixando de dar atenção à verdade para dar ouvidos às fábulas (cf. 4,3-5). Naquela época, já começavam as falsas doutrinas e desvios na fé…
Parece que São Paulo escreve para os nossos dias: muitos pregadores, muitas religiões, muitas teorias sobre a verdade de Deus e do homem… E as pessoas se perguntam: é tudo igual, uma coisa vale a outra? Onde está a verdade? Nessas circunstâncias, quem não está bem esclarecido e enraizado na sua fé é levado a relativizar ou abandonar a própria fé, a escolher o que é mais fácil ou atraente, o que promete vantagem mais imediata, a menor sacrifício…
As circunstâncias atuais, como aquelas da Carta de São Paulo a Timóteo, requerem dos batizados melhor conhecimento da própria fé católica; não se valoriza nem se ama o que não se conhece. O Ano da Fé, a ser aberto em outubro, poderá ser uma grande ajuda para isso. “Sabes o que aprendeste e de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras…” (3,15). Como fino observador, Paulo refere-se, no começo da carta, à fé sincera de Timóteo, desde a infância, “fé que habitou primeiro em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice” (1,5). Avós e mães têm um papel importantíssimo na educação e na transmissão da fé aos filhos e netos.
“Firmes na fé, alegres na esperança e operosos na caridade”: assim devem ser os cristãos. As três virtudes teologais são dons de Deus, recebidos no Batismo, e devem tornar-se a marca da vida cristã. Nelas, devemos exercitar-nos e crescer, fazendo-as frutificar em boas obras. A fé requer busca constante, prática, esclarecimento e instrução; a superficialidade na fé é uma situação de risco, que expõe à confusão, ao menosprezo e ao abandono. Deus não recusa esse dom a quem o busque e peça com ardor.
A celebração recente de Corpus Christi, aqui em São Paulo, debaixo de chuva e frio, foi uma bela manifestação da fé católica do nosso povo. As pessoas estavam felizes por manifestar sua fé e amor à Eucaristia, tesouro de nossa fé católica. E também que o povo deseja e precisa ser confirmado na fé da Igreja e não recusa fazer sacrifícios para isso. Para nós todos, os pastores da Igreja, vale mais essa exortação de Paulo a Timóteo: “faze o trabalho de um evangelizador. Desempenha bem o teu ministério!” (cf 2 Tm 4,5).