Políticos e jornalistas
Celso Vicenzi
Deve ser muito difícil para os políticos atuantes e honestos – sim, eles existem – explicarem para a população que a função que ocupam pode ser exercida com dignidade e espírito público.
Tenho receio que o mesmo venha a ocorrer, em breve, com os jornalistas, se continuar a escalada da grande mídia para transformar suspeitas e denúncias em “escândalos nacionais”. Sem a devida contextualização dos fatos, o que se quer é passar ao desavisado leitor, ouvinte e telespectador, a sensação de que nunca houve tantos escândalos como agora – embora eles sejam rotina e moeda de trocas entre os setores público e privado desde o descobrimento do Brasil. Mesmo quando o denunciado é um político de outro partido -como aconteceu recentemente com um do PSDB- a edição dos telejornais habilmente se encarregará de complementar a notícia com as investigações de corrupção no governo do PT, como se houvesse um único partido e um único governo envolvido em “escândalos” no país. Quem dera!
Assim como os políticos decentes, os jornalistas éticos terão que fazer um esforço para explicar à população que não são iguais a esses que hoje colocam a sua -e a nossa!- credibilidade na lama. Sei que ninguém mais estranha, no Brasil, que a mídia atribua a si o papel de julgar, às vezes em poucas horas, em poucos dias, um fato que requer apuração detalhada. A mídia tem essa ambição, de ser um poder acima do poder. Atribui a si o direito de fiscalizar os poderes, mas não aceita ser fiscalizada e criticada. Quando isso ocorre, entoa o mantra da ameaça à liberdade de expressão e da tentativa de censura. Se a liberdade de expressão fosse um valor inquestionável, teríamos que permitir a apologia ao racismo, à pedofilia, à violência. Para tudo há um limite, mas a mídia quer se colocar fora desse debate. No Brasil, a mídia virou “vaca sagrada”, intocável.
Muitos inocentes já sentiram a crueldade e a covardia de ataques desferidos pela mídia. E mesmo diante de casos comprovados, há um peso a se atribuir a cada notícia. Não pode virar um massacre midiático. Assim como a justiça precisa ser justa, na absolvição ou na condenação.
Os critérios de escolha na investigação jornalística não são imparciais. Por que escolho investigar A e não B? A corrupção, o tráfico de influências e outras mazelas da vida pública e privada do país não são exclusivas de um único governo ou candidato(a). Quando se opta por uma determinada investigação e mantêm-se tantas outras longe da visibilidade pública, há aí uma escolha: política, ideológica e econômica. A grande mídia não deu uma linha, não balbuciou uma única frase sobre a capa da revista CartaCapital com a acusação à filha de José Serra envolvendo a quebra de sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros. Este que é somente um entre centenas de exemplos semelhantes. Dois pesos, duas medidas.
No caso dos jornais e revistas é até compreensível a adesão sem pudor a uma candidatura, embora fosse mais honesto que declarassem publicamente a preferência, como fazem algumas publicações norte-americanas – que nem por isso deixam de cobrir com o máximo de equilíbrio. É apenas uma maneira civilizada e democrática de não se esconder atrás de uma “isenção” que, sabemos pela ciência, é algo impossível – seja em relação a um indivíduo ou a qualquer grupo de pessoas e instituições. Mas no caso das emissoras de rádio e TV há o agravante de serem concessões públicas. No entanto, qualquer pessoa bem informada e com bom senso, perceberá os excessos cometidos. Esse enorme desequilíbrio em favor de interesses próprios ou de grupos não vigora em países que possuem instituições sólidas e não confundem jornalismo com denuncismo ou a espetacularização das notícias.
Há que se lamentar que, depois da famosa “edição” do debate Lula x Collor no segundo turno das eleições de 1989 -um case de manipulação e mau jornalismo, como depois ficou provado- a mídia volte a arriscar nesta campanha o seu maior patrimônio: a credibilidade. A distorção na cobertura é de tal intensidade que já se pode afirmar que Dilma disputa a eleição não mais com Serra, mas com a mídia. E decididamente, o país não se resume a escândalos e notícias ruins. Há muitos avanços e mudanças que mereceriam um pouco mais de atenção (basta ler os dados recentes do IBGE).
O Brasil mudou e parece que a mídia não percebeu. Ou não se conforma com as mudanças. Mas, afinal, que imprensa “analfabeta” é esta que não sabe “ler” o Brasil? Pode-se voltar à eterna tese preconceituosa de que “o povo não sabe votar” quando não vota do jeito que a gente quer. Mas enquanto isso o povo vai fazendo escolhas, políticas e de vida. E mudando a história. Talvez fosse mais proveitoso procurar entender do que fazer de tudo para tentar mudar uma eleição. Sim, tudo é possível, apostam os barões da grande imprensa. Mas a que preço?
Para desespero de alguns setores da elite, atualmente, apenas 4% consideram “ruim” ou “péssimo” o governo Lula. Só para lembrar o que a grande imprensa tenta esquecer, Fernando Henrique Cardoso concluiu seu segundo mandato com 26% de avaliação positiva e 36% de avaliação negativa, registrado em pesquisa de dezembro de 2002 (Datafolha).
O mais estarrecedor é que a mídia, que foi fundamental para a redemocratização do país, se identifica cada vez mais com o passado, com as forças que sustentaram a ditadura no Brasil, com as elites que nunca tiveram a audácia de formular um projeto para o país que incluísse todos os brasileiros.
Faltando poucos dias para a eleição, a virulência dos grandes veículos de comunicação está em uma escalada sem precedentes. Transformam hipóteses em sentenças definitivas, distorcem e omitem informações – fáceis de comprovar por jornalistas e cidadãos bem informados. Esse “vale-tudo” de jornalistas e empresas de comunicação não é jornalismo, assim como a política não é exatamente isso que boa parte dos políticos faz no exercício de um mandato. Chegará o dia em que saberemos muito bem distingui-los. Porque só haverá democracia, de fato, no Brasil, quando funcionarem plenamente os mecanismos que permitam a construção coletiva do bem comum. Entre eles, a democratização dos meios de comunicação.
Wanderley de Oliveira
set 30, 2010 @ 16:02:40
Na Idade Mídia, pingos nos is. Essa discussão sobre Meios de Comunicação, Jornalismo e Política me preocupa. Propositalmente todas as partes envolvidas confundem mais do que explicam ao grande público. Uma singela comparação. Quando um automóvel atropela e mata um pedestre, a culpa é do operário que trabalha na empresa fabricante? Quem elabora a estratégia de priorizar o automóvel como principal meio de transporte, que tem todo tipo de incentivo, do governo, do crédito público e privado, dos proprietários das fabricas, dos sindicatos do trabalhadores, dos governos/governantes/políticos, das agencias de propaganda e dos compradores de veiculos… Então quem é ou são os culpados pelos mais de 30 mil mortos ou feridos pelos acidentes de transito no país, fora os problemas ambientais que ocasionam? Quem estabelece esse estilo de vida que beneficia alguns poucos da classe média e milhões de cidadãos que nem conseguem pagar transporte público e pagam a conta?
Então sobre os meios de comunicação… quem trata o jornalismo como mercadoria? Este produto beneficia a que interesses? Quem tem o direito de produzir e consumir informação? Quem pode organizar e ordenar sobre tal matéria? Qual noticia interessa ser veiculada pelo proprietário do veiculo de comunicação? A que interesses eles servem, dos anunciantes, do governo ou dos leitores/espectadores? Numa democracia burguesa de massas que se diz republicana, quem pode produzir, veicular ou acessar informações, o que e quem regulamenta, disciplina e fiscaliza o setor?
A meu ver existem dois tipos de profissionais de jornalismo, os éticos e os canalhas, daí derivam todos os pensamentos e atitudes. Urge democratizar os meios de comunicação social neste país, uma verdadeira reforma “agrária no ar” já que estamos na Idade Mídia.
Wanderley de Oliveira – Produtor e Repórter voluntário do Arcanjo no Ar.
joelma sampaio
set 30, 2010 @ 19:18:30
COMECEI A FAZER A NOVENA DE SÃO JOSÉ, E JÁ NO TERCEIRO DIA RECEBI UMA GRAÇA, VALEI-ME SÃO JOSÉ.
Rinalda
set 30, 2010 @ 20:03:18
O que mais me impressionou,nesse artigo, é que, infelizmente, nos demonstra a triste e dura realidade que estamos vivenciando.
“Faltando poucos dias para a eleição, a virulência dos grandes veículos de comunicação está em uma escalada sem precedentes.”
Apenas dois (02) exemplos desse “vale-tudo” para se ganhar a eleição:
(1) a profecia de uma vidente de nome Neila Alckimin. Pois é, essa senhora Deusa já previu o futuro do povo brasileiro. Foi até o futuro e presenciou a vitória da Dilma, sua morte, posse do vice Michel Temer, derrota e traição dele por seus amigos e, por conta disso tudo, o período nebuloso para o país.
Vocês acreditam que um colega de trabalho imprimiu esse besterol, me deu para ler e ainda perguntou se acredito? Não estou falando de uma pessoa analfabeta, ignorante, sem qualquer instrução ou “informação”. Refiro-me a uma pessoa de nível superior completo. Imagine então, o que se passa na cabeça das pessoas mais simples?
(2) a armação do Ilustre Ministro Gilmar Mendes, do STF, dando seu voto favorável a dupla exigência de apresentação do título de eleitor e de outro documento com foto no dia da eleição.
É vergonhoso isso tudo o que está acontecendo. Essas pessoas se intitulam de Deuses e, o pior de tudo, PENSAM E ACREDITAM que realmente o sejam. Lembrando a música do saudoso Renato Russo “Que país é esse?”, eu diria “que tipo de gente é essa?”.
Até mais.
Rinalda