Portas abertas

Dom Demétrio Valentini
Adital

Estamos chegando na reta final do Ano da Fé. Iniciado em 11 de outubro de 2012, ele vai se concluir oficialmente no dia 24 deste mês de novembro.

Ele foi instituído pelo Papa Emérito Bento XVI, e será concluído pelo Papa Francisco. Sua motivação principal esteve ligada ao Concílio Vaticano II. Isto explica a data do seu início, no dia em que se completavam 50 anos da abertura do Concílio.

Todo documento oficial do Vaticano é identificado por suas primeiras palavras, que geralmente são escolhidas por evocarem, de maneira especial, o assunto principal do documento.

Desta vez, as palavras escolhidas foram: “Porta Fídei”, isto é: “A Porta da Fé”.

Na verdade, são de uma citação bíblica. Foram palavras usadas por Barnabé e Paulo, ao voltarem da primeira excursão apostólica em terras pagãs do império romano. Traziam a “boa notícia” de que “Deus abriu aos pagãos a porta de fé” (Atos 14, 27). Na iminência de concluir este “Ano da Fé”, nos damos conta que a palavra “porta” se presta bem, não só para celebrar um ano, mas para designar o novo espírito, a nova postura, o novo clima de relacionamento e de confiança, trazido para dentro da Igreja, muito além das expectativas iniciais do Ano da Fé.

Vivemos agora sob o signo da porta aberta. Se Bento XVI, com a promulgação do Ano da Fé usou as chaves de Pedro para abrir de novo a porta da fé, o Papa Francisco veio escancarar todas as portas.

De fato, a Igreja é desafiada hoje a abrir as portas, sem receio de ser invadida e perder sua identidade. Ao contrário, a Igreja se sente desafiada a acolher todos os clamores que surgem das situações concretas. A Igreja se vê na obrigação, como portadora do Evangelho, de ter para com todas as pessoas uma palavra de ânimo, de esperança, e da certeza do amor de Deus.

Esta disposição de abrir as portas pode ser facilmente identificada na decisão tomada pelo Papa Francisco, de convocar um sínodo extraordinário sobre a família, em outubro de 2014.

O interessante é perceber que já havia um sínodo sobre a família, convocado para 2015. Para que, então, um extraordinário sobre o mesmo assunto, em 2014?

Aí mora a estratégia do Papa Francisco. Este primeiro sínodo é para “escancarar as portas” dos problemas muito sérios e profundos, que atingem hoje a família.

Com esta decisão, o Papa “abre a porta” para que sejam colocadas à mesa da reflexão todas as situações, mesmo as mais complexas e difíceis.

Não como alguém que só recorda os grandes princípios, e com eles condena todos os que não os vivem em plenitude. Mas, isto sim, como alguém que escuta com atenção os problemas vividos hoje pelas famílias, e se pergunta o que pode fazer, para que continuem experimentando o amor que Deus tem para com cada pessoa, em qualquer situação que se encontre.

Assim se entende o grande elenco de questões, sobre as problemáticas mais complexas e novas, que atingem hoje a família, desde o divórcio, o casamento gay, os métodos contraceptivos, e tantas outras situações, provocadas pelas 38 perguntas do sínodo, colocadas em aberto, para todos os que quiserem expressar sua opinião.

Não é a Igreja que escolhe o “cardápio” dos problemas a serem enfrentados. Esses problemas são trazidos pela realidade. A Igreja reflete sobre eles, para entendê-los, sim; mas, sobretudo, para se perguntar o que pode fazer pelas pessoas que os vivem.

Ela olha a realidade, sob a luz da Boa Nova, e sob o prisma da misericórdia a ser administrada em nome de Cristo.