Reconstrução precisa respeitar dignidade do povo, dizem organizações

Karol Assunção

Agência Adital

O terremoto que atingiu o Haiti no último dia 12 trouxe graves consequências ao país caribenho. Além de lidar com a dor de perder familiares e amigos, haitianos e haitianas começam a enfrentar o desafio de reconstruir o país. No último sábado (27), organizações e plataformas haitianas divulgaram uma carta sobre a atual situação e as estratégias que devem ser utilizadas para a reestruturação do país.

De acordo com a carta, a realidade atual é espantosa. O desastre deixou milhares de feridos e refugiados e mais de um milhão de pessoas desabrigadas. Tal situação, segundo as organizações, é amenizada graças à solidariedade dos povos que ajudaram, desde o começo, no resgate de pessoas e doaram alimentos e materiais de primeira necessidade. “Estes mecanismos espontâneos de solidariedade devem desempenhar um papel essencial no processo de reconstrução e de reconceitualização do espaço nacional”, consideram.

Para as plataformas, os trabalhos no país devem visar a uma reconstrução coletiva e democrática popular, contribuindo para a preservação das conquistas dos movimentos sociais e populares haitianos. Além disso, as ações devem suprir as necessidades urgentes da população, como alimentação, atenção à saúde primária e assistência médica e psicológica. Para isso, segundo a carta, centros de serviços e de coordenação estão sendo instalados em diferentes pontos do país através dos trabalhos de várias plataformas e organizações sociais.

Apesar das ajudas ao país serem necessárias e indispensáveis, as organizações firmantes lembram que nem todo auxílio tem respeitado a dignidade e a soberania do povo haitiano. “Lutamos por uma ajuda humanitária adaptada e respeitosa de nossa cultura e de nosso ambiente e que não destrua as construções de economia solidária elaboradas desde várias décadas pelas organizações de base com as quais trabalhamos”, afirmam.

Também denunciam as intervenções militares estadunidenses no país. Para as organizações firmantes, o governo dos Estados Unidos, utiliza o desastre para ocupar o Haiti com militares e, assim, transformá-lo em base militar estadunidense. Ademais, afirmam que, ao controlar o aeroporto de Porto Príncipe e de outras estruturas estratégicas do Haiti, o país norte-americano priva o povo haitiano de receber parte das ajudas vindas de outros países.

“Devemos também proclamar nossa cólera e nossa indignação frente à utilização da crise haitiana para justificar uma nova invasão de 20.000 marines norte-americanos. Denunciamos o que pode converter-se em uma nova ocupação militar, a terceira de nossa história por tropas norte-americanas. Inscreve-se , obviamente, na estratégia de remilitarização do Caribe no marco da resposta do imperialismo americano à rebelião crescente dos Povos do continente frente à mundialização neoliberal”, revelam.