Sabedoria da História
Dom Demétrio Valentini
Para a Diocese de Jales, o mês de agosto é propício para recordar a história, e continuar tirando as lições que ela nos dá. Ainda mais neste ano, em que a Diocese se aproxima do jubileu de ouro de sua criação.
Permanece válido o provérbio latino, que demonstra o apreço pela história que os antigos já tinham. “Historia est magistra vitae” – “A história é mestra da vida”.
E é mesmo. Basta estarmos atentos ao simbolismo de fatos e datas da história da Diocese, para deduzir alguns recados muito claros, e muito salutares.
A começar, por exemplo, pela data da criação da Diocese de Jales. Ela foi criada pelo Papa João 23, no dia 12 de dezembro, no ano de 1959.
Pareceriam todas referências inexpressivas, se olhadas sem a dimensão histórica. Mas se articuladas entre si pela dinâmica da história, acabam expressando uma mensagem clara e convergente.
A começar, então, pelo dia 12 de dezembro. É o dia dedicado a Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. Criada neste dia, é claro que a diocese se sente, desde o berço, chamada a assumir as feições da Igreja da América Latina, com o peso que esta identificação apresenta com muita evidência. Bem que poderiam ter colocado outra data para o Papa assinar o decreto. Mas foi escolhida esta, com evidente marca eclesial. Depende agora da diocese valorizar a carga simbólica sugerida por esta data.
Outra referência é o ano da criação da Diocese. Foi em 1959. Também ele poderia passar em branco, se lido em desconexão com a história. Mas se queremos situar este ano de 1959 no contexto da Igreja em nosso tempo, salta aos olhos um acontecimento de todo singular, vivido pela Igreja em 1959. Foi naquele ano que o Papa João 23 surpreendeu o mundo com o anúncio da convocação de um Concílio, para renovar a Igreja, reencontrar seus fundamentos evangélicos, e atualizar sua linguagem e sua fisionomia aos tempos atuais.
Pois bem, uma diocese criada no ano do anúncio do concílio, pode muito bem evocar este episódio para fortalecer sua opção pastoral fundada nas propostas de renovação eclesial do Concílio, que suscitaram um intenso processo que ainda continua e precisa ser levado adiante. Isto supõe persistência e discernimento, que encontram sólido fundamento no Concílio Vaticano II.
Aí chegamos à figura do Papa João 23. É certamente motivo de honra para uma diocese ter sido criada por decreto assinado por este Papa, que marcou a história da Igreja de maneira tão profunda.
Em João 23 encontramos muitas virtudes que podem servir de referência para a caminhada pastoral da diocese. A começar pela sua abertura e docilidade ao Espírito, que explica a coragem que ele teve de convocar um concílio que iria mexer profundamente com a postura pastoral da Igreja, suscitando reações que ele soube contornar de maneira extraordinária, sabendo se antecipar a elas e desfazê-las antes que tomassem corpo, como aconteceu com a indiferença inicial de alguns cardeais que julgavam imprudente convocar um concílio com estas propostas amplas e corajosas de renovação eclesial.
Quantas lições a aprender. Quantos recados oportunos a história nos oferece, com a credibilidade de sua experiência e com a força dos fatos que ela registra.
Que João 23 abençoe agora a diocese, que ele criou no início do seu pontificado. Ele merece uma estátua, a assinalar o jubileu de ouro da Diocese de Jales.