Sair e semear
José Antonio Pagola
Antes de contar a parábola do semeador que “saiu a semear”, o evangelista apresenta-nos Jesus que “sai de casa” para encontrar-se com as pessoas, para “sentar-se” sem pressas e dedicar-se durante “muito tempo” a semear o Evangelho entre todo o tipo de pessoas. Segundo Mateus, Jesus é o verdadeiro semeador. Dele temos de aprender também hoje a semear o Evangelho.
Primeiro é sair de nossa casa. É o que pede sempre Jesus aos Seus discípulos: “Ide por todo o mundo…”, “Ide e fazei discípulos…”. Para semear o Evangelho temos de sair da nossa segurança e dos nossos interesses. Evangelizar é “deslocar-se”, procurar o encontro com as pessoas, comunicarmos com o homem e a mulher de hoje, não viver encerrados no nosso pequeno mundo eclesial.
Esta “saída” para os outros não é proselitismo. Não tem nada de imposição ou reconquista. É oferecer às pessoas a oportunidade de encontrar-se com Jesus e conhecer uma Boa Nova que, se a acolhem, lhes pode ajudar a viver melhor e de forma mais acertada e sã. É o essencial.
A semear não se pode sair sem levar connosco a semente. Antes de pensar em anunciar o Evangelho a outros, temos de o acolher dentro da Igreja, nas nossas comunidades e nas nossas vidas. É um erro sentirmo-nos depositários da tradição cristã com a única tarefa de transmiti-la a outros. Uma Igreja que não vive o Evangelho, não pode contagia-lo. Uma comunidade onde não se respira o desejo de viver seguindo os passos de Jesus, não pode convidar ninguém a segui-la.
As energias espirituais que há nas nossas comunidades estão a ficar por vezes sem explorar, bloqueadas por um clima generalizado de desalento e desencanto. Dedicamo-nos apenas a “sobreviver” mais que a semear vida nova. Temos de despertar a nossa fé.
A crise que estamos a viver está a conduzir-nos à morte de um certo cristianismo, mas também ao início de uma fé renovada, mais fiel a Jesus e mais evangélica. O Evangelho tem força para gerar em cada época a fé em Cristo de forma nova. Também nos nossos dias.
Mas temos de aprender a semeá-lo com fé, com realismo e com verdade. Evangelizar não é transmitir uma herança, mas tornar possível o nacimento de uma fé que brote, não como “clonagem” do passado, mas como resposta nova ao Evangelho escutado a partir das preguntas, dos sofrimentos, das alegrias e das esperanças do nosso tempo. Não é o momento de distrair-se as pessoas com qualquer coisa. É a hora de semear nos corações o essencial do Evangelho.