22 de Junho
Este é o relato de um homem que morreu pelo Papa e pela Igreja, se opondo ao Rei Henrique VIII para que Cristo fosse o vencedor. Para os mártires não há derrota, mas sim, a palma do martírio, o côro dos Anjos, o nome escrito na eternidade para nossa perpétua memória. A fé a qualquer preço e levada até as últimas consequências: “Assim como o batismo significava morrer com Cristo e ressurgir para a plenitude da vida eterna, o martírio é o selo de uma total conformidade do Santo com Cristo” (Kenneth L. Woodward. A Fábrica de Santos. Editora Siciliano: 1992, p. 53.)
São João Fisher nasceu em Beverley, na cidade de Yorkshire, na Inglaterra, no ano de 1469. Órfão de pai ainda pequeno, aos quatorze anos era o mais destacado estudante do Colégio São Miguel. Quando completou vinte anos, era professor daquele colégio. Em seguida, ingressou na famosa Universidade de Cambridge. Dois anos depois, recebeu o diploma de doutor com louvor, foi ordenado sacerdote e nomeado vice-reitor da referida universidade.
Quando a rainha Margareth, viúva pela terceira vez, decidiu deixar a corte e ingressar num mosteiro, foi ele que escolheu para ser seu diretor espiritual. Distribuiu sua fortuna entre várias instituições, destinando grande parte à Universidade de Cambridge. Na mesma ocasião, São João Fisher era eleito chanceler da universidade, cargo que manteve até morrer.
Aos trinta e cinco anos, foi eleito bispo de Rochester, dedicando-se muito à função. Distribuía esmolas com generosidade e as portas de sua casa estavam sempre abertas para os visitantes, peregrinos e necessitados. Mesmo sendo bispo e chanceler da universidade, levava uma vida tão austera como a de um monge.
Apesar de todo o seu trabalho, estudava muito e escrevia livros. Seus discursos fúnebres, da morte do rei Henrique VII e da própria rainha Margareth, tornaram-se obras famosas. Quando Martinho Lutero começou a difundir sua Reforma, o bispo Fisher combateu os erros da nova doutrina, escrevendo quatro livros, que o tornaram famoso em todo o mundo cristão.
Em 1535, o rei Henrique VIII desejou divorciar-se de sua legítima esposa para casar-se com a cortesã Ana Bolena. O bispo João Fisher foi o primeiro a posicionar-se contra aquele escândalo, embora muitos outros ilustres personagens da corte declarassem, apenas para agradar o rei, que o divórcio poderia ser feito. Ele não; mesmo sabendo que seria condenado à morte, declarava a todos que:
– “O matrimônio católico é indissolúvel e o divórcio não será possível para um matrimônio católico que não se tenha anulado”.
Entretanto o ardiloso rei Henrique VIII conseguiu que o Parlamento inglês o declarasse chefe supremo da Igreja na Inglaterra, em substituição ao papa da Igreja Católica, com a aprovação de todos os que desejavam conservar seus altos postos no governo. Porém João Fisher declarou no Parlamento que:
– “Querer substituir o Papa de Roma pelo rei da Inglaterra, como chefe de nossa religião, é como gritar um ‘morra’ à Igreja Católica”, e isto seria um erro absurdo.
Os inimigos o ameaçavam, com atentados e calúnias. Como não conseguiram que o bispo deixasse de declarar sua fé católica, foi preso na Torre de Londres. Tinha sessenta e seis anos, porém os muitos anos de penitências, seus alunos, e o excessivo trabalho pastoral faziam-no aparentar oitenta. Ainda estava preso quando foi nomeado cardeal pelo Papa Paulo III. Ao ser informado da nomeação cardinalícia, o rei Henrique VIII sem qualquer piedade, exclamou:
– “Enviaram-lhe o chapéu de cardeal, porém não poderá colocá-lo, porque eu lhe mandarei cortar a cabeça”. E assim o fez. A sentença de morte foi comunicada a João Fisher, que foi executado no dia 22 de junho se 1535. Antes de ser decapitado, ele declarou à multidão presente que:
– “Morro por defender a Santa Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo, e o Sumo Pontífice de Roma”. Em seguida, os carrascos cumpriram a sentença.