São Romualdo

19 de Junho

Fundou a Ordem dos Camaldulenses

Romualdo era descendente dos duques de Orseoli e nasceu em Ravena, na Itália, no ano de 956. Sua família não tinha vínculo algum com a religião e por isso o rapaz teve uma vida de prazeres e diversões irresponsáveis até os vinte anos. De repente, ao atingir essa idade, tomou conhecimento de como é fácil desperdiçar uma vida por valores sem sentido. Tudo aconteceu por causa de uma luta mortal.

Sérgio, o pai de Romualdo, travou um duelo com seu melhor amigo e obrigou o filho a assisti-lo. A cena de sangue, da qual seu pai saiu como vencedor e assassino, chocou Romualdo e o fez recolher-se a um convento. Depois de passar algum tempo na França, em contato com a espiritualidade da Abadia de Cluny, retornou à Itália.

Repensou a existência e decidindo-se pela vida monástica, ingressou na Ordem de São Bento. Em pouco tempo, tornou-se um exemplo para todos, mas isso lhe atraiu algumas inimizades. Tanta era sua disciplina, tamanha era sua dedicação, que passou a sofrer oposição de seus irmãos de ordem.

Deixou o convento, indo viver na companhia de Marinho, um eremita famoso. Aperfeiçoou-se tanto no trabalho espiritual que atraiu vários amigos para a vida religiosa. Até o próprio pai acabou se convertendo por causa dele, abandonando tudo para viver na reclusão de um mosteiro. Mais tarde, seu pai também foi canonizado, sendo celebrado como são Severo.

Romualdo fundou vários conventos, sendo o mais famoso deles o de Campo Maldoli, na Toscana, que acabou dando origem à Ordem dos Camaldulenses, criada por ele. Mas sua grande obra foi a reforma da disciplina monástica, que fez os conventos recuperarem os verdadeiros valores cristãos em sua época.

Introduziu uma nova característica na vida dos monges, que além da vida contemplativa consistia na participação ativa dos problemas do seu tempo, como as missões na Boêmia e na Polônia, as peregrinações à Terra Santa, a reforma do clero e muitos outros pontos vitais para a Igreja. Em suas peregrinações espirituais, reformou mosteiros e fundou outros novos em Verghereto, em Lemmo, Roma, Fontebuana, Vallombrosa e em Val de Castro, perto de Fabiano.

Romualdo, pressentindo sua morte, despediu-se dos monges e quis morrer sozinho, o que aconteceu no dia 19 de junho de 1027 no Convento de Val de Castro. Seu túmulo foi local de muitos prodígios e, quando seu corpo foi exumado, cinco anos depois, foi encontrado incorrupto. Venerado pelos devotos, em 1569 o papa Clemente VIII canonizou-o e indicou o dia do seu trânsito para a festa de São Romualdo, o “pai dos monges camaldulenses”.

O SÍMBOLO DA CONGREGAÇÃO  CAMALDOLENSE

 

Ego vobis vos mihi

    Eu Deus para vocês, vocês povo para mim

 

O símbolo é constituído por duas pombas que bebem do mesmo cálice, e embaixo delas está uma pequena faixa com a escrita  latina “ Ego vobis, vos mihi”. Em cima do cálice é colocada uma estrela.

          O símbolo atual tem uma longa história antes de chegar a ser utilizado como símbolo da comunidade monástica camaldolense e, por isso, guarda em si mesmo vários níveis de significado.

         Em âmbito cristão o primeiro testemunho  o encontramos no chamado” Mausoleo di Galla Placídia” em Ravenna(séc.V), antiga cidade romana que guarda profundos influxos gregos na própria arte.  O conjunto  das decorações musivas do Mausoleo, que    se referem  à vida da comunidade cristã através de vários símbolos e alegorias da natureza (estrelas,aves,animais,flores) e da bíblia, induz a interpretar  a cena das duas aves voando para beber à fonte de água viva, como  símbolo dos fiéis que vão beber a água do Espírito de Cristo no Batismo.

 No século XII os elementos fundamentais deste  símbolo aparecem no sêlo  do Prior de Camáldoli: duas pombas bebendo do cálice. Uma primeira referência já encontrava-se num antigo código da Biblioteca do S.Eremo de Camáldoli, com a figura de dois pavões, símbolo da eternidade.

            Pouco mais tarde  o símbolo aparece em muitos  códigos  e estruturas arquitetônicas dos mosteiros e eremitérios camaldolenses, enriquecido por outro elemento embaixo do cálice: a faixa tendo as palavras bíblicas “Ego vobis, Vos mihi” – “ Eu para vocês, Vocês para mim”. O texto na realidade é o resumo da fórmula usada na Escritura (cf Dt 26,16-17),  sobretudo  pelos profetas Jeremias (cf 30,22; 31,31) e  Ezequiel (cf 11,19-20), para exprimir a “aliança nupcial” entre o Senhor Deus e o povo de Israel, escolhido como sua esposa  amada com amor fiel e misericordioso (cf Os 2,1-25): “Eu Deus para vocês, vocês povo para mim”

 O assunto central do texto citado é  o dom da aliança que o Senhor guarda além da infidelidade da esposa,  e o  da intimidade estabelecida por Deus com seu povo.

Os escritores camaldolenses, desde o século XII, ficam divulgando uma nova   interpretação do mesmo símbolo, adaptada  à vida monástica camaldolense.

1- o monge, a monja, chamado/a por Deus a segui-lo na vida monástica, recebe o dom e a vocação  à  intimidade do amor com Ele. Este chamado e este dom é o  próprio cerne e alvo da vida contemplativa cristã e monástica. Intimidade a  ser  guardada  e cultivada. O monge/ a monja com efeito a atinge bebendo cada dia  ao cálice do Senhor na celebração eucarística,memorial sacramental da sua Páscoa, isso é do seu amor.

2- a vida monástica camaldolense tem duas formas, relatadas uma à outra na comunhão da caridade e  complementares  entre elas na  reciprocidade: vida eremítica na solidão do eremitério(para os monges) e vida cenobítica nos mosteiros. Cada uma, e as duas juntas, recebem a capacidade do amor recíproco ao beber do amor do Senhor partilhado no cálice da Eucaristia. A estrela indica a  origem divina deste amor.

Unidade na diversidade. Unitária no objetivo, pluralista nas suas expressões. Esta é a tradição  monástica camaldolense e o seu dom pelos homens e as mulheres hoje. Dom  e  desafio.

         A recíproca comunhão fraterna constitui o testemunho  visível da aliança do Senhor , profetizada no primeiro testamento e realizada na sua plenitude  na morte e ressurreição de Jesus.

 O monge e a monja são chamados a viver  em si mesmos este mistério do amor divino pela graça do Senhor  e a  testemunha-lo.

Como nos lembra também a recente Conferência dos bispos da América Latina e do Caribe na Aparecida (2007), “todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe da sua missão, ao mesmo tempo que o vincula a Ele como amigo e irmão….Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é  extensão testemunhal da vocação mesma”