Sínodo: não há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Realizou-se no início da tarde desta segunda-feira, na Sala de Imprensa da Santa Sé, no Vaticano, a primeira de uma longa série de coletivas sobre o Sínodo, cujos trabalhos durarão três semanas.
Conduzida pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, a coletiva teve a participação de um presidente-delegado, Cardeal André Vingt-Trois, do relator-geral, Cardeal Peter Erdő, e do secretário especial, Dom Bruno Forte.
Card. André Vingt-Trois: o Sínodo é tempo de oração, de reunião e de caminho
As primeiras impressões sobre a assembleia sinodal, o contexto atual ligado às realidades vividas pelas famílias e as finalidades do Sínodo. Esses foram os temas no centro da coletiva aberta pelo Cardeal Vingt-Trois, que recordou que os eventos vividos a partir de sábado representam uma significativa introdução ao Sínodo.
A assembleia sinodal é um tempo em que a Igreja está em oração, como se deu durante a Vigília de sábado passado e como durante a missa de abertura – afirmou o presidente-delegado de turno.
O Sínodo – acrescentou – é também um tempo em que a Igreja se reúne, como este dia, em torno do Papa. É um tempo em que se coloca junto em caminho. Em seguida, o cardeal francês ressaltou suas primeiras impressões sobre o Sínodo:
A primeira impressão muito forte, que tive na manhã de segunda-feira, foi ver, de modo excepcional, a grande diversidade dos participantes, a diversidade dos continentes representados, a diversidade de Igrejas – porque há representantes das Igrejas orientais e das Igrejas latinas –, a diversidade de experiências… Todo esse conjunto e essa diversidade – que poderia levar a considerar improvável que se chegue a concordar sobre alguma coisa – são reunidos em torno do Papa, tendo como indicações as que já foram dadas no Sínodo de 2014 e que foram reiteradas esta segunda-feira. As indicações com as quais debatemos e refletimos neste momento de modo aberto: como a dizer que estaremos abertos a Deus que nos guiará através da oração e da meditação da Palavra de Deus. Estaremos abertos uns aos outros e esse é o estilo do diálogo que devemos buscar viver. Estaremos abertos às realidades que as famílias vivem, partindo justamente dos relatórios que obtivemos ao longo do ano.”
Card. Erdő: fundamental o papel de comunidades compostas por boas famílias
Referindo-se ao trabalho preparatório em vista da Relatio, o Card. Erdő afirmou que emergiram duas grandes realidades:
“A primeira era a desconfiança global para com as instituições, não somente para com a instituição do matrimônio e da família, mas pelas instituições em geral. Outro fenômeno é a presença maciça e o papel fundamental das comunidades cristãs católicas compostas por boas famílias, que se ajudam reciprocamente, que já têm um papel importante em muitas paróquias, em muitos movimentos, inclusive na transmissão da fé. E que têm também tantos meios para preparar humanamente os jovens para o matrimônio e a família, e acompanhar o casal, ajudar nos momentos de crise, inclusive em situações de problemas existenciais, como o desemprego, a precariedade no trabalho, a doença… E nesse entrelaçamento de comunidades de famílias tornou-se mais claro que a família mononuclear sozinha não basta para salvaguardar ou reforçar a solidariedade entre as gerações. Também nesse campo é necessário – não somente importante, mas parece necessário – o papel dessas comunidades de famílias.”
Dom Forte: não há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Por sua vez, o secretário especial do Sínodo, Dom Forte, recordou que entre os bispos há não dois ou mais partidos como defenderam alguns meios de informação. “Trata-se de pastores, homens de fé que se colocam à escuta de Deus e diante das expectativas e dos desafios do povo.” “Isso nos une muito mais profundamente do que todas as nuanças e diferenças”, disse o prelado. Em seguida, Dom Forte recordou as finalidades do Sínodo:
“As finalidades são fundamentalmente duas. A primeira é propor o Evangelho da família, a família como sujeito e objeto central da pastoral, como valor prioritário sobre o qual investir, mesmo numa época em que em tantas partes do mundo ela parece em crise. Por outro lado, a atitude pastoral de acompanhamento e de integração necessária para com todos. Obviamente, a começar pelas famílias ou pelas famílias em crise. Isso exige um estilo de grande parresia (coragem, audácia, firmeza, destemor, ndr), de grande franqueza, inclusive no Sínodo, porque precisamos fazer-nos ressonância das esperanças e das dores de todas as famílias do mundo, mas também um sentido de profunda responsabilidade diante de Deus e dos homens. O Papa Francisco falou de coragem e de humildade e falou de oração confiante. Creio que essas são as chaves para que o estilo do Sínodo possa ser fecundo: não fechar os olhos diante do nada; ter um sentido alto de responsabilidade diante de Deus e dos homens, das suas esperanças, de seus sofrimentos, viver uma profunda docilidade à ação do Espírito Santo, a partir de um estilo de oração, de humildade evangélica diante do Senhor e de coragem apostólica diante do mundo.” (RL)