Teologia da Libertação, Paulo apóstolo e Marx
Jung Mo Sung
Neste domingo inicia-se em S. Leopoldo, RS, Congresso Continental de Teologia que vai celebrar 50 anos do Concílio Vaticano II e 40 anos da publicação do livro de Gustavo Gutierrez, Teologia da Libertação: perspectivas. Com certeza será um momento de celebração e também reflexões.
“Celebrar e refletir” significa aqui, entre diversas coisas, “voltar” ao passado para recuperar as intuições fundamentais, fazer balanço do que foi positivo e negativo no caminho e se comprometer no esforço de abrir novas pistas e superar dificuldades e impasses para continuar fazendo história. Tudo isso para manter vivas reflexões teológicas que iluminem e alimentem a fé que se expressa nas práticas eclesiais, sociais e políticas em defesa da dignidade e vida das vítimas dos sistemas e relações opressoras e desumanizadoras.
Penso que, entre grandes contribuições da TL, podemos destacar duas: a) a recuperação da noção de que Deus de Jesus não é um deus metafísico, distante e insensível aos sofrimentos humanos, mas sim um Deus que opta pelos pobres, que se encarna na história humana para tomar o lado das vítimas; b) que a teologia não deve começar e terminar em conceitos dogmáticos, mas sim refletir a partir das perguntas e desafios das práticas concretas de libertação e em função delas. TL não é uma –pelo menos não era no seu início– uma proposta de releitura dos tratados teológicos a partir da opção pelos pobres ou de qualquer outro ponto. Por mais que esse tipo de teologia possa parecer TL, se a reflexão teológica não nasce e/ou não está em função de problemas concretos das pessoas e povos dominados não é TL no sentido proposto no seu início. Por isso, voltar às intuições iniciais é importante.
É claro que uma teologia assim só poderia encontrar oposições e críticas falaciosas daqueles que não conseguem ou não querem romper com o “mundo”, com sistemas de dominação que se autossacralizam. Uma das críticas injustas mais repetidas é que a TL era uma mera simplificação do marxismo em linguagem religiosa. O diálogo com marxismo foi uma consequência de a TL assumir como suas interlocutoras as ciências do social críticas ao sistema capitalista dependente da AL. Muitas páginas já foram escritas sobre isso, mas o debate (nem sempre honesto) sobre a relação entre TL e marxismo continuará presente enquanto a TL mantiver postura profética frente ao sistema capitalista. Isto é, enquanto a TL continuar refletindo sobre “teologia e economia”, refletindo sobre a luta dos pobres pelo direito de viver dignamente, direito esse que é negado pelo capitalismo, a discussão sobre marxismo ou Marx estará presente.
Na história da TL, Franz Hinkelammert é, sem dúvida, um dos pensadores que mais (e, penso eu, também melhor) dialogou com o pensamento maduro de Marx. No seu livro “As armas ideológicas da morte” (1977, 2ª ed amp. 1981), um dos primeiros sobre “teologia e economia”, ele apresentou uma crítica marcante do fetiche do e no capitalismo e uma reflexão instigante sobre a crítica da lei em Paulo apóstolo. Para Dussel, esse livro “marca um capítulo na história da teologia da libertação, como um novo começo. O grande economista, leigo, desenvolveu um discurso teológico potente, crítico e econômico”. (É uma pena que ele não seja um teólogo da libertação muito conhecido no Brasil.)
Após mais de 30 anos de reflexão sobre o assunto, Hinkelammert nos brinda com um livro que realmente dá um novo salto na reflexão da TL: “A maldição que pesa sobre a Lei: as raízes do pensamento crítico em Paulo de Tarso” (Paulus, 2012). Nesse livro, ele analisa a presença de Paulo em Marx e a crítica da lei feita por Paulo. “Para Paulo, a busca da justiça pelo cumprimento da lei produz a injustiça; e a lei se transforma em seu contrário, torna-se lei do pecado. Esse mesmo fenômeno aparece na análise de Marx, que o denomina fetichismo. Quando se considera o cumprimento da lei e, por conseguinte, da lei do valor como ato de justiça, os crimes que se cometem no cumprimento da lei já não parecem ser crimes, mas sacrifícios necessários ao progresso”. Apesar dessa convergência, Hinkelammert diz que “há uma grande diferença entre as posições de Paulo e de Marx, que aparece em suas concepções da solução”.
A TL não morreu, há reflexões sérias e relevantes sendo produzidas – em menor quantidade que antes, devemos reconhecer –, mas que não são muito conhecidas ou divulgadas. Talvez uma das tarefas importante hoje para TL seja a de conhecer e divulgar essas obras.
Ivan Tadeu Couto Rojas
out 09, 2012 @ 02:00:18
É impressionate a tentativa de insuflar vida a um cadaver.
Karl Marx está morto juto com a sua filosofia.
Este texto é bom para mostrar a relação ente Marxismo e telologia da libertação, condenada pelo Papa.
Não se precisa de arcabouços externos à Teologia Tradicional pra se analisar a realidade.
O Santo Padre explicou isso qud esteve no Brasil.
A Tradição possue tudo o que se necessita.
Fora com Marx, o morto, e fora com a TL.
Viva a Tradição !