Vírus e pânico: os dois perigos
Nestes dias, com o aparecimento de novos vírus, como o vírus mexicano, se apresentam não só um, mas dois perigos. O primeiro é a efetiva difusão da doença em nível mundial. O segundo é o pânico ao qual as pessoas podem ser arrastadas. Acima de tudo, é preciso esclarecer que, mesmo que esse novo vírus se apresente muito agressivo, pelo número dos primeiros contágios, não se observa uma pandemia viral no mundo desde o século passado, nos tempos da terrível gripe espanhola.
Desde então, os fantasmas como o mal da vaca louca, a Sars e a gripe aviária foram perseguidos com as medidas sanitárias e preventivas oportunas. É verdade que, paradoxalmente, no campo das doenças infecciosas, o mundo moderno parece mais frágil do que o mundo antigo. Aprendemos a nos defender de infecções quase certamente mortais (pensemos na varíola, na peste, no tifo, no cólera), mas na era da globalização e dos voos intercontinentais, os oceanos e as grandes distâncias por terra não servem mais como barreiras.
E também o conceito de “cordão sanitário” se enfraqueceu: o alarme se difunde muito tarde com relação à velocidade das viagens e do grande número de viajantes no mundo. São interrogativas novas, frente às quais fechar os olhos não ajuda, mas levantar a guarda sim. Eu estou convencido de que hoje uma pandemia também pode ser enfrentada e resolvida, se procedermos com uma organização eficaz e moderna, como está se demonstrando a que foi ativada rapidamente pela Europa e pela Itália. Porém, esse “sistema de salvamento” corre o risco de empacar se a população não seguir racionalmente as recomendações de comportamento, perdendo-se nas suas ânsias.
E aqui chegamos ao segundo perigo. Todos sabemos bem que a imprensa, pela sua natureza, está em busca da notícia e vive na onda emotiva que aquela desencadeia inevitavelmente. Porém, no caso de um alarme de doença, a emotividade pode criar fragilidades nas estruturas sanitárias e induzi-las a adotar medidas desproporcionais, com o objetivo de vencer mais o medo do que o vírus.
Por exemplo, para a gripe aviária, foram investidos milhões de euros em fármacos que nunca foram utilizados. Era forte a pressão da população assustada, e a essa força contribuíram as imagens de milhares de frangos queimados vivos que ricocheteavam de uma TV à outra. Vivi em primeira pessoa, quando era ministro da Saúde, a odisséia da encefalite bovina via bactérias (vaca louca) que colocou o ministério e o país inteiro em sérias dificuldades. O compromisso maior para nós foi o de controlar e curar os rebanhos bovinos, mas o esforço mais duro foi o de tranquilizar os italianos, sabendo que o risco de eles ficarem doentes foi inferior ao de aspirar a fumaça de uma tragada de cigarro ou de percorrer 700 metros de carro.
Os vírus não surgem de mundos e épocas obscuras, sem um porquê. Os animalistas pensam, nos casos de vírus de animais, em uma espécie de nêmese da natureza. Doenças temíveis são liberadas no mundo porque o homem, no seu ávido consumismo, violou as leis da natureza: vacas e bois são atingidos por bactérias porque o homem os obriga a comer farinha animal como se fossem canibais; os frangos e os suínos são obrigados a engolir alimentos e a não se mover nunca se não em espaços minúsculos, em que são esmagados quase sem saber que o sol e o ar livre existem.
Eu não como os animais porque os amo de verdade, mas respeito a posição de quem consome carne, e não me parece certo acusar os criadores pela difusão de algum vírus. É certo, porém, que melhores condições de criação e um maior respeito pelos direitos dos animais contribuiriam com uma melhoria geral da situação higiênico-sanitária internacional.
Se de um lado os riscos para a saúde em um mundo consumista e globalizado aumentam, de outro, aumentam também os instrumentos para entendê-los e as medidas para enfrentá-los. Por isso, faço um apelo às pessoas para que, justamente nos momentos de maior insegurança como este, tenham ainda mais confiança na ciência, na medicina e nas capacidades dos seus homens de proteger o seu bem mais precioso: a saúde.